RELATIONSHIP BETWEEN CHRONOTYPE, SLEEP AND ACADEMIC PERFORMANCE
RELACIÓN ENTRE CRONOTIPO, SUEÑO Y DESEMPEÑO ACADÉMICO
Nancy Julieta Inocente
Clara Odilia Inocente
Janine Julieta Inocente
Eliana Fátima de Almeida Nascimento
Teresa Celia de Mattos Moraes dos Santos
Milva Maria Figueiredo de Martino
RELAÇÃO ENTRE CRONOTIPO, SONO E DESEMPENHO ACADÊMICO
Resumo
O estudo da cronobiologia torna-se importante para descrever a atividade humana no trabalho, pois evidencia a variabilidade das funções biológicas nas 24 horas do dia. As repercussões cronobiológicas no cotidiano do estudante constituem uma tarefa árdua para concluir o curso de graduação sob estas condições. As alterações e transtornos fisiológicos do organismo fazem com que a arquitetura das fases do sono apresente mudanças, o que pode interferir, tanto no desempenho escolar, quanto no de suas atividades diárias e, de um modo geral, interfere na qualidade de vida do indivíduo. O objetivo do estudo foi investigar a produção científica sobre cronotipo, sono e sua interferência no desempenho acadêmico dos estudantes universitários. Utilizou-se uma revisão de literatura com busca na coleção Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e PUBMED, a partir dos descritores cronotipo, sono, desempenho acadêmico, transtornos do sono, universitários.
Palavras-chave:
RELATIONSHIP BETWEEN CHRONOTYPE, SLEEP AND ACADEMIC PERFORMANCE
Summary
The study of chronobiology becomes important to describe human activity at work, as it highlights the variability functions 24 hours a day. The chronobiology repercussions on the student’s daily life is an arduous task to complete the undergraduate course under these conditions. The physiological changes and disorders of the organism cause the architecture of the sleep phases to change, which can interfere, both in school performance and in their daily activities and, in general, interferes in the individual’s quality of life. The aim of study was investigate the scientific production on chronotype, sleep and its interference in the academic performance of university students.A literature revised was used, searching the Scientific Electronic Library Online (SCIELO) and PUBMED collection, using the keywords chronotype, sleep, academic performance, sleep disorders, university students.
Keywords: Chronobiology. Sleep. Sleep disorders. Learning. Academic achievement.
RELACIÓN ENTRE CRONOTIPO, SUEÑO Y DESEMPEÑO ACADÉMICO
Resumen
El estudio de la cronobiología se vuelve importante para describir la actividad humana en el trabajo, ya que destaca la variabilidad de las funciones biológicas las 24 horas del día. Las repercusiones cronobiológicas en la vida diaria del estudiante es una ardua tarea para completar el curso de grado en estas condiciones. Los cambios fisiológicos y trastornos del organismo provocan cambios en la arquitectura de las fases del sueño, lo que puede interferir tanto en el rendimiento escolar como en sus actividades diarias y, en general, interfiere en la calidad de vida del individuo. El objetivo del estudio fue investigar la producción científica sobre el cronotipo, el sueño y su interferencia en el rendimiento académico de los estudiantes universitarios. Se realizó una revisión de la literatura, buscando en la colección Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e PUBMED, utilizando las palabras clave cronotipo, sueño, rendimiento, académico, trastornos del sueño, estudiantes universitarios.
Palabras clave: Cronobiologia. Dormir. Trastornos del sueño. Aprendizaje. Logro académico.
INTRODUÇÃO
Cronobiologia
A cronobiologia surgiu como ciência em 1729 sendo uma disciplina da Biologia. Ela deve ser compreendida como: “a ciência que estuda os ritmos e os fenômenos bioquímicos de caráter periódico nos seres vivos” (Duarte & Silva, 2012, p.54).
Os ritmos circadianos, compostos por circa: cerca de, diano: um dia, são ritmos biológicos que oscilam com um período de, aproximadamente, 24±4 horas, com marcante periodicidade circadiana, relacionados à temperatura corporal, frequência cardíaca, pressão arterial, níveis de vários hormônios, número de células circulantes do sistema imunológico, o ciclo vigília/sono (Duarte, 2018).
A Cronobiologia é o ramo da ciência responsável pelo estudo dos diferentes ritmos biológicos nos organismos vivos. O ciclo vigília-sono é um ritmo biológico, endógeno, determinado geneticamente e sincronizado por indícios temporais (Campos & De Martino, 2004).
Entre as diferentes maneiras de avaliar a distribuição de caracteres em seres humanos, essa ciência, a cronobiologia, destaca-se por permitir um conhecimento que descreve características individuais que compõem um fenótipo baseado no comportamento (Duarte & Silva, 2012). Assim, os indivíduos podem ser identificados em três cronotipos, considerando-se as diferenças individuais na prevalência pelos horários de vigília e de sono, denominados matutinos e vespertinos extremos ou moderados e indiferentes ou intermediários (Mello, Esteves, Comparoni, Benedito-Silva & Tufik, 2002; Martins & Gomes, 2010).
Os indivíduos matutinos são aqueles que preferem dormir cedo, em torno das 21h ou 22h, e acordar cedo, em torno das 6h, sem interferências em seu desempenho físico e mental. Os vespertinos preferem dormir após as 22h e sentem mais disposição à tarde e no início da noite. Já os indiferentes adaptam-se com maior facilidade aos horários (De Martino & Ling, 2004).
Embora o cronotipo constitua uma particularidade genética, acredita-se que seja variável no decorrer dos anos. É possível observar que há prevalência de vespertinos entre os jovens e de matutinos entre os idosos (Pereira, Tufik & Pedrazzoli, 2009).
Estudos sobre o processo do sono enfatizam as influências das variáveis fisiológicas e ambientais no desenvolvimento da cronobiologia. O cronotipo junto à genética, à exposição à luz e a privação de sono condicionam o comportamento de dormir (Duarte, 2018)2. Ressalta-se a relevância da função hipotálamo na atividade do ciclo sono-vigília e do papel do supraquiasmático como um regulador dessa atividade (Ríos-Flórez, López-Gutiérrez & Corrales, 2019).
Os horários de estudos que ultrapassam os horários habituais de sono noturno, aliadas às atividades sociais e de lazer, podem promover oposição entre a fase do sincronizador e a fase da expressão do ritmo biológico. Consequentemente, ocasiona-se uma dessincronização externa e uma interna dos ritmos (Almondes, 2013).
Quando são exigidas mudanças dos hábitos de sono, que possam determinar privação ou débito, verifica-se que o cronotipo pode estar relacionado com a capacidade de adaptação e com o desempenho das atividades diárias (Alam, Tomasi, Lima, Areas & Menna-Barreto, 2008).
As diferenças individuais são importantes quanto aos aspectos comportamentais relacionados à saúde e ao risco de sofrer distúrbios psicopatológicos (Martin, Hébert, Ledoux, Gaudreault & Laberge, 2012). A cronobiologia configura-se, atualmente, como uma alternativa importantíssima na área educacional. Estudar sobre cronotipo, no âmbito educacional, torna-se relevante ao instrumentalizar conhecimentos aos professores na orientação aos estudantes sobre a adequação do horário para o desenvolvimento de suas atividades sociais de estudo, trabalho e lazer (Duarte & Silva, 2012).
Assim, torna-se necessário entender melhor os ciclos biológicos diários dos estudantes, já que eles desenvolvem comportamentos de privação de sono, principalmente quando acumulam as tarefas de estudante com as do trabalho, para propor um planejamento no que diz respeito ao aproveitamento do tempo destinado aos estudos e despertar a atenção para o cuidado com a saúde (Santos, De Martino, Sonati, De Faria & Nascimento, 2016).
Sono
O sono é uma necessidade biológica, universal, caracterizada por uma limitação do estado de consciência, perda da vigilância, diminuição do tônus muscular e uma conservação parcial da percepção e interação com o ambiente (Inserm, 2017). Influenciado pelo ritmo circadiano, o sono é compreendido como um relógio biológico, pela homeostase do sono, pela intensidade e tempo de exposição à luz e pela secreção da melatonina (Cummings, 2012).
Um sono reparador proporciona uma vida saudável, favorece o desenvolvimento de um bom estado emocional, dos reflexos e da habilidade cognitiva, durante o estado de vigília (Gerrero, Aguilar & Medina, 2010).
O sono desempenha um papel essencial para a manutenção da saúde. É essencial à sobrevivência, tanto quanto comer e beber. Favorece o crescimento e desenvolvimento físico, emocional e social de crianças e adolescentes com interferência na aprendizagem, saúde e qualidade de vida (Paiva, 2008).
O sono é definido como um conjunto de alterações comportamentais e fisiológicas que ocorrem no corpo. Ele possui função restaurativa, de conservação de energia e de proteção. O sono é reversível à estimulação, enquanto a vigília caracteriza-se pela atividade motora, pela alta responsividade e por um fator neuroquímico que favorece o processamento, o registro de informações e a interação com o ambiente. A alternância entre sono e vigília ocorre de forma circadiana, sendo esse ciclo variável de acordo com idade, sexo e características individuais (Chokroverty, 2010).
Quando a duração do sono é inadequada para atender às necessidades e quando o tempo de sono fica desalinhado com os ritmos circadianos do corpo, o sono é considerado deficiente. Um sono insuficiente representa riscos à população adolescente com consequências na saúde mental, na segurança e no desempenho (Owens &Weiss, 2017).
A fase do sono baseia-se em três variáveis fisiológicas: o eletroencefalograma (EEG), o eletro-oculograma (EOG) e o eletromiograma (EMG). Por meio deles, dois padrões fundamentais são caracterizados: o sono Non Rapid Eye Movements (NREM), que compreendem 75%, e Rapid Eye Movements (REM), com 25% do tempo total do sono (Fernandes, 2006).
O sono NREM apresenta relaxamento muscular com manutenção dos tônus, progressiva redução de movimentos corporais, aumento progressivo de ondas lentas do EEG, ausência de movimentos oculares rápidos respiração e eletrocardiograma regulares (Fernandes, 2006).
O sono REM, por sua vez, é denominado como sono paradoxal. Considerado um sono profundo no qual o despertar do indivíduo, nessa fase, é difícil, o sono REM apresenta um padrão eletroencefalográfico que se assemelha à vigila, além de, nele, ocorrer a hipotonia ou atonia muscular, movimentos fásicos e mioclonias multifocais, emissão de sons, movimentos oculares rápidos, EEG com predomínio de ritmos rápidos e de baixa voltagem, respiração e eletrocardiograma irregular e presença de sonhos (Fernandes, 2006).
Na sequência dos estágios, tem-se, primeiro, a vigília e, em seguida, N1, N2, N3 e REM. Relacionadas ao tempo total de sono, essas fases costumam apresentar proporções que variam: vigília (5% a 10%); N2 (50%); N3 (12,5% a 20%); REM (20% a 25%); N1, o restante. Pacientes mais idosos podem apresentar diminuição dos estágios profundos do sono, N3 e REM, com aumento dos estágios N1 e N2, enquanto que, em crianças, é observado o contrário (Schutte-Rodin, Broch, Buysse, Buysse, Dorsey & Sateia, 2008).
O sono varia ao longo da vida. O sono lento é mais profundo durante o crescimento, até por volta dos 20 anos. À medida que envelhecemos, torna-se uma um sono mais lento e leve, explicando o aumento dos transtornos do sono com o avançar da idade. Ao mesmo tempo, o sono REM é mais longo nos primeiros anos de vida e sua duração é reduzida na idade adulta (Inserm, 2017).
Pode-se observar, ainda, que as variações relacionadas à duração do sono identificam os indivíduos, classificando-os como grandes dormidores, pois apresentam necessidade de sono de, no mínimo, nove horas por noite, e como pequenos dormidores, que podem dormir no máximo seis horas (Dijk & Schantz, 2005). Assim, as necessidades do sono são individuais. Em uma noite de sono é mais importante a qualidade do sono profundo, sem interrupções, do que a quantidade, porém com um sono superficial e fragmentado (Martinez, 1999; Lopes, Faustino, Leal & Inocente, 2005). A quantidade e a qualidade do sono mudam com a idade e, quando há distúrbios, devem ser distinguidos para permitir o atendimento preventivo ou o tratamento precoce (Valle, Zarebski & Valle, 2009a).
As dessincronizações, produzidas por mudanças em jornadas de trabalho ou estudo, manifestam-se com o surgimento de distúrbios do sono, sensação de mal-estar, complicações gastrointestinais, alterações no humor e baixo desempenho. A sonolência em sala de aula diminui a atenção e o interesse, podendo comprometer o desempenho escolar (Andreoli & De Martino, 2012).
Observa-se, ainda, que os estudantes universitários tendem a manter um estilo de vida inadequado, como hábitos noturnos, sedentarismo e consumo de drogas, o que pode ocasionar problemas relacionados ao padrão do sono (Pereira, Gordia & Quadros, 2011).
Devido a perturbações do sono, podem ocorrer alterações significativas no funcionamento físico, ocupacional, cognitivo e social do indivíduo, além de comprometimento da qualidade de vida (Bittencourt, Silva, Santos, Pires & Mello, 2005; Almeida, Siqueira, Lima, Brasileiro-Santos & Galindo Filho, 2011). Assim, é de grande importância compreender o fenômeno do sono em seus diversos aspectos e buscar soluções para seus distúrbios, visando a alcançar um rendimento satisfatório nas atividades diárias (Valle, Valle & Reimão, 2009b).
OBJETIVO
Investigar a produção científica sobre cronotipo, sono e sua interferência no desempenho acadêmico dos estudantes universitários.
MÉTODO
Utilizou-se uma revisão de literatura com busca na coleção SCIELO e PUBMED a partir dos descritores cronotipo, sono, desempenho acadêmico, transtornos do sono, universitários.
PESQUISAS SOBRE SONO E DESEMPENHO ACADÊMICO
A aprendizagem representa uma forma de plasticidade neural, uma vez que ocorre a partir da consolidação da memória. O sono tem importância fundamental neste processo. O cérebro é muito mais ativo durante a noite do que comumente se imagina, principalmente no que diz respeito à memorização e, por conseguinte, à aprendizagem. Isso porque o sono não serve somente para apagar informações desnecessárias apreendidas durante o dia, mas também para reforçar o que foi aprendido e, portanto, aquilo que é importante para que seja memorizado. Hoje, os cientistas são unânimes ao afirmar que é necessária uma boa noite de sono para “consolidar” o que foi aprendido durante o dia (Valle et al., 2009b).
O sono permite ao corpo recuperar e secretar o hormônio do crescimento e desempenha um papel primordial nos mecanismos da aprendizagem e memória. O sono beneficia a estabilização das informações recém-adquiridas (Muehlroth, Rasch & Werkle-Bergner, 2020) e ajuda aquele que aprende, fortalece a memória, atenção, estimula a criatividade e maturação do cérebro (Mazza & Rey, 2019).
Experimentos demostraram que dormir melhora a memorização e que a privação do sono, com menos de 4 a 5 horas, está associada a problemas de memória e dificuldades de aprendizagem. A memória não é um fenômeno unitário, mas é composta de múltiplos sistemas. As memórias não são armazenadas como foram inicialmente codificadas, mas passam por um processo de reorganização gradual, denominado consolidação da memória. Durante o sono, o hipocampo está em repouso, evitando interferir em outras informações. No entanto, quando a memória é codificada, livra-se do seu componente emocional para reter as informações (Harand, Bertran, Doidy, Guénolé, Desgranges, Eustache & Rauchs, 2012).
Tem-se discutido bastante a questão de saber se a privação de sono afeta as capacidades cognitivas de uma maneira global, devido à diminuição da atenção, ou se prejudica alguns aspectos da cognição mais do que outros. A tomada de decisão e planejamento são tarefas relativamente pouco afetadas pela perda de sono, enquanto os aspectos criativos e inovadores são mais prejudicados (Killgore, 2010). Assim, pode-se observar que alguns componentes envolvidos em uma tarefa podem ser mais afetados do que outros (Whitney & Hinson, 2010).
Pesquisas realizadas identificaram que muitas crianças, adolescentes e jovens não atendem às diretrizes recomendadas de um sono saudável. A falta de sono é um indicador de uma série de consequências, incluindo problemas na escola, sonolência, atrasos, alteração do humor, problemas emocionais e comportamentais, aumento de apetite, fadiga, sonolência diurna, ganho de peso e habilidades cognitivas prejudicadas (Inserm, 2017, Bowers & Moyer, 2017).
A população jovem é mais propensa a desenvolver transtornos do sono devido a fatores sociais, ambientais e a alguns hábitos como o consumo de álcool, o tabaco e a cafeína (Carrillo-Mora, Ramírez-Peris & Magañ-Vasquez, 2013).
Foi apontado em estudos que o uso de café, bebidas energéticas, chás verde e preto e de álcool, por parte de estudantes universitários, é a tentativa de diminuir a queixa quanto a problemas relacionados a irritabilidade, depressão, fadiga, dentre outros sintomas. (Micu, Cojocaru & Mihăescu, 2012).
Estudos realizados demonstraram que os problemas do sono são muito comuns entre os estudantes. Tais estudos apoiaram a necessidade da avaliação do sono e da identificação dos alunos em risco quanto ao rendimento escolar (Angelone, Mattei, Sbarbati & Di Orio, 2011). A associação entre relatos de distúrbios do sono e o baixo desempenho escolar tem sido documentada para os adolescentes sonolentos (Pagel & Kwiatkowski, 2010; De Martino & Maurício, 2013).
Em um estudo com 173 estudantes universitários verificou-se que, tanto os 66 estudantes da área de saúde (81,48%), quanto 60 de universitários da área de exatas (65,22%), foram classificados como tendo uma qualidade do sono ruim. Na área de saúde, 41 (50,61%) dos estudantes apresentaram sonolência diurna excessiva e, na área de exatas, 40 estudantes (43.48%) apresentaram sonolência diurna excessiva (Carvalho, Silva Junior, Siqueira, Almeida, Soares & Lima, 2013).
Estudo entre estudantes universitários que trabalham, dentre as variáveis relacionadas aos distúrbios do sono, 50,98% referiram sonolência em sala de aula. Observa-se ainda que houve predominância para o grupo de estudantes que apenas estuda, e 82,76% não têm insônia (Santos, 2015).
Qualidade do sono ruim foi apontada em 84,31% dos estudantes universitários em uma pesquisa. A análise de como os alunos percebem a qualidade do sono traz resultados preocupantes, pois eles a percebem como boa ou muito boa, apresentando p-valor de < 0,0001. Dentre os estudantes com qualidade de sono ruim, pode-se observar, nessa pesquisa, que 84,49% são do sexo feminino, 82,61% estão entre 18 a 29 anos, 85,16% são solteiros e 85,16% não têm filhos (Santos, 2015).
Em uma pesquisa com estudantes universitários da área de exatas (92 alunos) e da área de biológicas (81 alunos) verificou-se que os estudantes apresentaram, em sua maioria, má qualidade do sono e sonolência diurna excessiva, as quais podem estar relacionadas aos horários irregulares e às altas demandas acadêmicas (Carvalho et al., 2013).
Os resultados de um estudo com 305 estudantes de medicina demonstraram que os alunos iam para a cama tarde (01:53) e não obtinham horas de sono suficientes. A prevalência de queixas de má qualidade do sono (transtorno do sono) foi relatada por 30% dos alunos e 40% apresentavam sonolência diurna excessiva. Sintomas de insônia também foram prevalentes entre os alunos pesquisados (Alsaggaf, Wali, Merdad, & Merdad, 2016).
Um estudo buscou i. conhecer a proporção de diferentes distúrbios do sono entre 1.041 estudantes de medicina e ii. determinar sua associação com o desempenho acadêmico. Dois terços dos estudantes de medicina apresentaram o risco de ter, pelo menos, um distúrbio do sono, particularmente hipersonia e insônia. Uma porcentagem significativa de estudantes de medicina dormia pouco (30,7%). Os autores concluíram que vários distúrbios do sono tiveram um impacto negativo no desempenho acadêmico (Yassin, Al-Mistarehi, Beni Yonis, Aleshawi, Momany & Khassawneh, 2020).
Em uma pesquisa com 1.865 estudantes universitários brasileiros, os resultados mostraram que 32% apresentaram sono insuficiente nos dias de aula, 12,7% despertares noturnos e 32,2% sonolência diurna. O maior consumo de álcool associou-se ao maior número de distúrbios, seguido do tabagismo. Os autores concluíram que ajustes nos horários de início das aulas no turno da manhã poderiam contribuir na prevenção da má qualidade do sono dos alunos (Carone, Silva, Rodrigues, Tavares, Carpena, & Santos, 2020).
Os alunos que trabalham durante o ano letivo enfrentam a privação do sono e seus efeitos, uma vez que têm que fazer malabarismos entre escola, trabalho e responsabilidades pessoais e sociais, e isso pode deixá-los com menos tempo para dormir (Martin et al., 2011). Assim, destaca-se a importância da necessidade de tempo adequado de sono para a garantia do bom desempenho do aluno (Eliasson, Lettieri & Eliasson, 2010).
Medidas de higiene do sono podem ser iniciadas para ajudar a quebrar o ciclo, juntamente com a educação e a implementação de um regime rigoroso. Se iniciadas na escola primária e ao longo dos anos de faculdade, podem ter um impacto positivo, tanto no desempenho acadêmico, quanto na saúde emocional (Marhefka, 2011).
O sono restaurador é importante para o bom desempenho das atividades diárias e dos aspectos fisiológicos do organismo, sendo indispensável para uma melhor qualidade de vida (Soares & Campos, 2008).
CONCLUSÃO
Diversos estudos estimaram diferentes prevalências de transtornos do sono em universitários – o que requer cuidados frente à interface sono e prejuízo na saúde mental. Os diferentes estudos apresentados mostraram que existem evidências sobre a presença de fatores de risco e sintomas de diversos transtornos do sono entre estudantes universitários de diferentes cursos, principalmente os relacionados à área da saúde.
A má qualidade do sono e a sua curta duração, entre os estudantes universitários, podem ser atribuídas à excessiva carga acadêmica, ao horário de início de aulas para o período diurno e de término no período noturno, ao uso de computadores, jogos e redes sociais utilizados no período noturno, aos hábitos e ao pouco conhecimento sobre a higiene do sono por parte dos estudantes, professores e gestores acadêmicos.
Torna-se importante alertar os estudantes sobre as consequências dos transtornos do sono conscientizando-os no que tange aos danos caudados aos desempenhos cognitivo e comportamental. Ao considerar que constituem um dos problemas mais frequentes na população universitária, normalmente provocado por influências ambientais, as regras da higiene do sono devem ser observadas junto à prática de atividades físicas regulares, de preferência durante o dia, ir para a cama e levantar na hora normal, cuidado com a alimentação e evitar uso de telas de computadores e celulares, principalmente duas horas antes de dormir.
Sugerem-se, como conclusão, novos estudos com abrangência de diferentes áreas em decorrência da alta prevalência de transtornos do sono em estudantes universitários. A partir dos resultados encontrados, um alerta deve ser dado às instituições educacionais a fim de que sejam incorporadas ações preventivas ou intervenções pontuais sobre os transtornos do sono.
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AS AUTORAS
Nancy Julieta Inocente
Graduação em Psicologia e Serviço Social. Especialização em Psicoterapia Clínica Comportamental (PUCC). Mestrado e Doutorado em Ciências Médicas pela Universidade Estadual de Campinas.
E-mail: nancyinocente@gmail.com
Clara Odilia Inocente
Graduação em Medicina Veterinária. Mestrado em Ciências Cognitivas e Ergonomia pela Universidade de Bordeaux. Doutora em Pesquisas Clínicas e Neurociências pela Universidade de Lyon (França).
E-mail: clarainocente@gmail.com
Janine Julieta Inocente
Graduação em Odontologia e Pedagogia. Especialização em Disfunção Temporomandibular. Mestrado em Psicologia da Saúde e do Trabalho (Universidade de Bordeaux). Doutorado em Psicologia pela Universidade de Bordeaux (França).
E-mail: janineinocente@hotmail.com.
Eliana Fátima de Almeida Nascimento
Graduação e especialização em Enfermagem do Trabalho (UNITAU). Mestrado em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo – USP. Doutorado em Ciências da Saúde, área de concentração: Enfermagem e Trabalho, pela UNICAMP.
E-mail: efanascimento@yahoo.com.br
Teresa Celia de Mattos Moraes dos Santos
Graduação em Enfermagem. Especialização em Formação Pedagógica em Educação Profissional (UNIARARAS). Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional (UNITAU). Doutorado em Ciências da Saúde, UNICAMP.
E-mail: teresacelia@terra.com.br
Milva Maria Figueiredo de Martino
Graduação em Enfermagem. Mestrado em Psicobiologia pela Universidade de São Paulo e Doutorado em Ciências Biológicas (Fisiologia) e Livre-Docente pela UNICAMP. Pós doutorado pela Universidade do Porto (Portugal).
E-mail: milva@unicamp.br